domingo, 21 de novembro de 2010

O assalto.

Na noite de ontem ás 21 hrs. três homens fortes e bem armados entraram na minha vida sem pedir licença.Não fiquei nervosa, meu coração não acelerou ,nada senti, e hoje, tentando almoçar desabei literalmente na frente do prato de sopa de capeletti.Na mão dele uma arma encostada na minha cabeça , que interessante quando se tem uma arma não é necessário argumentos.A arma é o argumento e ponto.Logo eu, que tanto em minha vida tive que argumentar, pq sempre fui vendedora(pensei até em comprar uma tb rsrs)naquele instante o "meu" único argumento foi: levem tudo mas, não tirem de mim a ESPERANÇA.Realmente eles levaram tudo e fiquei eu (ainda bem!!!ufffaaaa!!! pra contar a história e apagar a luz , no momento certo),sem o meu CD do Jorge Aragão(estava tocando espero que tenham gostado , um samba é sempre bom para alegrar a alma) e da Maria Bethania , sem o celular onde armazeno o telefone das pessoas que carrego na minha vida , pessoas pra quem se liga em uma hora dessas para pedir socorro alguém me ajuda? Sem casa para dormir pq tb levaram a chave.Invasão completa.Mas explico melhor, a angústia ou o motivo de ter desabado somente hj foi que parei pra pensar, minha vida não vale nada,qdo vi crianças correndo pelo restaurante ,pratos caindo no chão,tudo isso é VIDA com letra maiúscula,quando pedi não me tirem a esperança ,foi pra dizer nada mais me importa ,mas me deixem aqui pq tenho sonhos ,tenho muitos banhos de mar para tomar, tenho que correr no sentido literal(um dia eu começo prometo) e no figurado,tenho que ser feliz, quero ter filhos e quero que não me tirem a coragem disto ,coragem de colocar alguém no mundo e ao menos imaginar que esta criaturinha terá uma vida um pouco mais segura, nestas horas penso que se fosse um filho meu ou qquer pessoa amada por mim ,ali no meu lugar que tivesse sido levada junto, o que é comum acontecer pq poderiam ter imaginado que o carro teria rastreador,sei lá. E a ele(a) tivesse sido feito algum mal, eu seria a pessoa mais a favor no mundo da pena de morte a mais cruel pena de morte,pq gente , quem deixou?? como pode??? pq alguém chega assim faz tudo desabar e sai como se nada tivesse acontecido ?? Dá para imaginar as mães que perderam seus filhos, maridos , irmãos ???Meu Deus quanta coragem para continuar vivendo e não pensar em fazer justiça com as próprias mãos.
Eu tenho 33 anos, trabalho há 19 anos, aturei muito desaforo, chorei, briguei , me expus, quebrei a cara ,sofri , perdi tudo ...depois recuperei,senti fome do outro lado do mundo sem ter com quem sequer conversar o máximo que roubei foi uma maça da mesa de um escritório onde eu trabalhava de faxineira. Por sorte minha o cidadão que ali naquela cadeira de escritório de Londres sentava entendeu e ,desde então , passou a me deixar algo para comer no outro dia , nós nunca nos conhecemos ,mas conseguimos nos comunicar com dignidade(nem tanta talvez ;afinal ,roubei uma maça) e respeito.Isso não me fez ter raiva do mundo ,revolta nunca senti, corri atrás ,guerriei e fui buscar o meu lugar muitos e muitos anos depois consegui realizar alguns coisas bobas talvez, outras nem tanto , e em um momento como este a gente para, pensa, revê tudo como um filme passando na cabeça,reavalia , pensa novamente e pede encarecidamente a 3 assaltantes: NÃO LEVEM A MINHA ESPERANÇA, levem tudo mas a ela deixem intacta,POR FAVOR!!!!!Tenho vida para ser vivida e bem vivida.Obrigado Srs assaltantes pelos esclarecimentos de vida que me foram deixados ontem a noite, foi bem melhor do que muitas sessões de terapia, ah e lá na terapia a minha querida psicologa sempre me chama atenção me corrige digamos ,dizendo: Ana acorda as pessoas não são boas, tu vives em um mundo lúdico demais. Pois vou continuar vivendo neste mesmo mundo , tenho que acreditar ,preciso do brilho no meu olho , da minha alegria ,preciso continuar tendo ESPERANÇA. Aliás, percebo isto ainda mais forte qdo um amigo como o Anderson larga seu churrasco , sua vida ,sua namorada e vem me socorrer.A ele meu muito Obrigado. Por ti , por mim , por vários, eu continuo tendo ESPERANÇA SIIIIIM!!!!!!!!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Ser alegre (muito melhor do que ser feliz) é gostar de viver mesmo quando a vida nos castiga

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QUANDO EU era criança ou adolescente, pensava que a felicidade só chegaria quando eu fosse adulto, ou seja, autônomo, respeitado e reconhecido pelos outros como dono exclusivo do meu nariz.
Contrariando essa minha previsão, alguns adultos me diziam que eu precisava aproveitar bastante minha infância ou adolescência para ser feliz, pois, uma vez chegado à idade adulta, eu constataria que a vida era feita de obrigações, renúncias, decepções e duro labor.
Por sorte, 1) meus pais nunca disseram nada disso; eles deixaram a tarefa de articular essas inanidades a amigos, parentes ou pedagogos desavisados; 2) graças a esse silêncio dos meus pais, pude decretar o seguinte: os adultos que afirmavam que a infância era o único tempo feliz da vida deviam ser, fundamentalmente, hipócritas; 3) com isso, evitei uma depressão profunda pois, uma vez que a infância e a adolescência, que eu estava vivendo, não eram paraíso algum (nunca são), qual esperança me sobraria se eu acreditasse que a vida adulta seria fundamentalmente uma decepção?
Cheguei à conclusão de que, ao longo da vida, nossa ideia da felicidade muda: 1) quando a gente é criança ou adolescente, a felicidade é algo que será possível no futuro, na idade adulta; 2) quando a gente é adulto, a felicidade é algo que já se foi: a lembrança idealizada (e falsa) da infância e da adolescência como épocas felizes.
Em suma, a felicidade é uma quimera que seria sempre própria de uma outra época da vida -que ainda não chegou ou que já passou.
No filme de Arnaldo Jabor, "A Suprema Felicidade", que está em cartaz atualmente, o avô (extraordinário Marco Nanini) confia ao neto que a felicidade não existe e acrescenta que, na vida, é possível, no máximo, ser alegre.
Claro, concordo com o avô do filme. E há mais: para aproveitar a vida, o que importa é a alegria, muito mais do que a felicidade. Então, o que é a alegria?
Ser alegre não significa necessariamente ser brincalhão. Nada contra ter a piada pronta, mas a alegria é muito mais do que isso: ser alegre é gostar de viver mesmo quando as coisas não dão certo ou quando a vida nos castiga. É possível, aliás, ser alegre até na tristeza ou no luto, da mesma forma que, uma vez que somos obrigados a sentar à mesa diante de pratos que não são nossos preferidos ou dos quais não gostamos, é melhor saboreá-los do que tragá-los com pressa e sem mastigar. Melhor, digo, porque a riqueza da experiência compensa seu caráter eventualmente penoso.
Essa alegria, de longe preferível à felicidade, é reconhecível sobretudo no exercício da memória, quando olhamos para trás e narramos nossa vida para quem quiser ouvir ou para nós mesmos. Alguém perguntará: é reconhecível como?
Pois é, para quem consegue ser alegre, a lembrança do passado sempre tem um encanto que justifica a vida. Tento explicar melhor.
Para que nossa vida se justifique, não é preciso narrar o passado de forma que ele dê sentido à existência. Não é preciso que cada evento da vida prepare o seguinte. Tampouco é preciso que o desfecho final seja sublime (descobri a penicilina, solucionei o problema do Oriente Médio, mereci o Paraíso).
Para justificar a vida, bastam as experiências (agradáveis ou não) que a vida nos proporciona, à condição que a gente se autorize a vivê-las plenamente.
Ora, nossa alegria encanta o mundo, justamente, porque ela enxerga e nos permite sentir o que há de extraordinário na vida de cada dia, como ela é.
É óbvio que não consegui explicar o que são a alegria e o encanto da vida. Talvez eles possam apenas ser mostrados: procure-os em "Amarcord" (1973), de Federico Fellini, em "Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas" (2003), de Tim Burton ou no filme de Jabor. "A Suprema Felicidade" me comoveu por isto, por ter a sabedoria terna de quem vive com alegria e, portanto, no encantamento.
Segundo Max Weber (1864-1920), a racionalidade do mundo industrial teria acabado com o encanto do mundo. Ultimamente, bruxos, vampiros, lobisomens, deuses e espíritos andam por aí (e pelas telas de cinema); aparentemente, eles nos ajudam a reencantar o mundo.
Ótimo, mas, para reencantar o mundo, não precisamos de intervenções sobrenaturais. Para reencantar o mundo, é suficiente descobrir que o verdadeiro encanto da vida é a vida mesmo.

(Contardo Calligaris, Folha de São Paulo)

Bola Sete- The Sun Pours Through the Darkness, Gently, Gently

Bola Sete - Mambossa

Baden Powell - Canto De Ossanha

Milton Nascimento - Bola de Meia, Bola de Gude

terça-feira, 16 de novembro de 2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Se eu te pudesse dizer
O que nunca te direi,
Tu terias que entender
Aquilo que nem eu sei.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

À beira de que mar

nos encontramos já?

Corrias a apanhar

conchas à beira mar.



Eu vi-te e não te amei,

Não me amaste, também...

Então porque é que eu sei

Que à beira-mar te amei?


Dá-me as mãos. Sei bem

Que já te tive as mãos

nas minhas...

Houve alguém conosco então? E quem?



Pudera!

O coração

Conhece mais que nós

Quando virá o perdão

Ao nosso amor de então?

Fernando Pessoa
...As pessoas não se precisam, elas se completam...não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida...

Mário Quintana
Você tem experiência?

Num processo de seleção da Volkswagen, os candidatos deveriam responder a seguinte pergunta: "Você tem experiência?" A redação abaixo foi desenvolvida por um dos candidatos.




"Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar. Já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto. Já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo.

Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora. Já passei trote por telefone. Já tomei banho de chuva e acabei me viciando. Já roubei beijo. Já confundi sentimentos. Peguei atalho·errado e continuo andando pelo desconhecido.
Já raspei o·fundo da panela de arroz carreteiro. Já me cortei fazendo barba apressado. Já chorei ouvindo música no ônibus. Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de esquecer. Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrela. Já subi em árvore pra roubar fruta. Já caí da escada de bunda. Já fiz juras eternas. Já escrevi no muro da escola. Já chorei sentado no chão do banheiro.

Já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante. Já corri pra não deixar alguém chorando. Já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só. Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado. Já me joguei na piscina sem vontade de voltar. Já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios.

Já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar. Já senti medo do escuro.Já tremi de nervoso. Já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial. Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar. Já apostei em correr descalço na rua. Já gritei de felicidade. Já roubei rosas num enorme jardim.
Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade. Já deitei na grama de madrugada vi a Lua virar Sol. Já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.

Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração. E agora um formulário me interroga? Me encosta à parede e grita: "Qual sua experiência?". Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência. Experiência... Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência? Não! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos! Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta: Experiência? Quem a tem, se a todo o momento tudo se renova?"
O Princípio da Motivação
Por Rogerio Martins


Em recentes pesquisas e apresentações sobre motivação, uma pergunta tem
sido recorrente: o que nos motiva na vida?
Desde que iniciei meus estudos sobre motivação humana, descobri diversas
explicações, conceitos, teorias e experiências que às vezes me confundiram sobre
o verdadeiro princípio da motivação. Porém, isso me estimulou a procurar
no convívio diário com profissionais, executivos, alunos e amigos o verdadeiro
sentido do que nos motiva na vida.
De certo que não encontrei uma explicação definitiva sobre o assunto, mas percebi
uma linha de conduta comum a todas as pessoas bem-sucedidas que mantive
e mantenho contato até hoje. O traço comum de comportamento que coloco
como um dos princípios da motivação humana é a capacidade de pensar positivamente
sobre seu futuro.
O fator “visão positiva do futuro” faz com que as pessoas tragam algum significado
para suas vidas. Quando pensamos sobre nossos futuros, estamos
criando uma ponte para o sucesso. Nossas ações passam a ter um sentido à
medida que organizamos os sonhos e ambições.
É fundamental ter sonhos para que encontremos motivos em nossas vidas. O
sonho é o primeiro passo para a concretização dos objetivos. Para alguns o sonho
é casar e ter filhos, para outros é ser bem-sucedido profissionalmente, em
outros casos é ter mais tempo para si mesmo, e assim por diante.
À medida que projetamos estes sonhos em nossas mentes criamos condições
favoráveis para vivermos motivados para alcançá-los.
Em função disso, afirmo que para encontrar a motivação para o dia-a-dia é preciso
primeiramente ter sonhos, projetos sobre o futuro, uma visão clara e significativa
de onde se quer chegar ou o que se quer fazer com a própria vida. É
preciso ter um sentido maior e que faça a diferença para si mesmo.
Há um caso real que reforça essa idéia: a do psiquiatra judeu Viktor Frankl que,
preso no campo de concentração de Auschwitz, em plena Segunda Guerra
Mundial, traçou três metas ao chegar naquele local deplorável: manter-se vivo,
ajudar as pessoas com seus conhecimentos médicos e aprender alguma coisa
com aquela situação. Ele conseguiu! No livro “Em busca de sentido”, Viktor
Frankl descreve os horrores daqueles momentos quando foi quase vítima do extermínio,
mas por definir claramente seu futuro agiu diariamente motivado para
cumprir suas três metas.
No mundo corporativo, também encontramos casos semelhantes de determinação,
motivação e foco no sucesso. O exemplo mais recente é da
empresa japonesa Toyota. Há alguns anos, seus executivos traçaram a meta
de ser não somente a melhor empresa de fabricação de automóveis, mas
a maior. Esse plano está se tornando realidade porque seus funcionários,
clientes e fornecedores compartilham esse futuro. Um executivo da indústria
de autopeças contou-me, certa vez, um fato interessante sobre o relacionamento
e visão compartilhada relativos a montadoras, no qual a Toyota
foi citada. Segundo ele, quando havia algum problema no material entregue,
as montadoras costumavam chamar para uma conversa e apontar “o erro
do fornecedor”, enquanto que a Toyota chamava para a reunião abordando
“a resolução de um problema nosso”. Os profissionais da Toyota colocavam
a situação como algo a ser resolvido em conjunto e o ônus era partilhado
entre as partes. Isso fez e faz toda a diferença.
Voltando aos sonhos, é preciso ter cuidado com o tamanho deles. Algumas
vezes o sonho é tão grande que, para ser alcançado com sucesso, deve ser
dividido em pequenas partes. Caso contrário, a frustração de não atingir
aquele objetivo é um fator de desmotivação tão poderoso que poderá ocasionar
a sensação de derrota. Para se chegar à vitória é preciso pensar
nela primeiro. Vários esportistas e executivos de sucesso já apontaram que
o fator determinante de suas conquistas foi a associação de uma visão positiva
de seu futuro, com a determinação para alcançar a vitória. É preciso
sonhar e agir. Planejar e realizar. Conquistar e comemorar.
Como sabemos, a motivação é um fator intrínseco ao ser humano e influenciado
por fatores externos (pelo meio em que vivemos e pelas pessoas com
quem convivemos). Por isso, nada mais natural que o princípio da motivação
se encontre em nossos sonhos, desejos e ambições que, aliados a
um sentido de ação, tornam-se a visão de futuro que nos impulsiona a
realizar, agir, fazer, trabalhar, namorar, crescer e, enfim, viver.
Motivos não faltam; basta dar um sentido a eles.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Frase do dia.

Eu posso até estar nesta vida a passeio, mas eu passeio a sério!!!!

Dor

A dor é uma placa no caminho que diz: NÃO É POR AQUI!!!!!
A vida é perfeita!!!

sábado, 6 de novembro de 2010

Clareando.

Até onde podemos ir?
Até o limite do suportável.
Um belo dia,depois de inúmeras repetições da mesma história,a gente desiste.
Com tristeza pela perda, mas com a alegria da descoberta, diz pra si mesmo:
"Cheguei até aqui" e então...a vida muda.


MM



"A música, é um lembrete que Deus nos deixou de que existe algo além"
"A música é tudo o que nos rodeia. Tudo que você tem que fazer é ouvir".

A Lista - Oswaldo Montenegro

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Canção do dia....


Pealo de Sangue


Que mistérios trago no peito
Que tristezas trago comigo
Se meu sangue é colono, é gaúcho
Lá no pampa é que eu
encontro abrigo
O cheirinho da chuva na mata
Me peala
Me puxa prá lá
Quero só um pedaço de terra
Um ranchinho de santa-fé
Milho-verde, feijão,laranjeira
Lambari cutucando o pé
Noite alta o luzeiro alumiando
Um gaúcho sonhando de pé
Quando será
Este meu sonho
Sei que um dia será novo dia
Porém não cairá lá do céu
Quem viver saberá que é possível
Quem lutar ganhará seu quinhão
Velho Guaíba
Sei que um dia será novo dia
Brotando em teu coração
Quem viver saberá que é possível
Quem lutar ganhará seu quinhão

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Hoje


Hoje estou desatando da memória as imagens de amor.
As minhas, as nossas imagens de amor,
porque as coisas são como são:
no momento em que escrevo e no momento em que você lê,
abrimos esses arquivos de imagens geradas a partir do amor, que são
- vamos admiti-lo antes que seja tarde,
- os nossos arquivos prediletos.
Tudo o que realmente nos interessa está arquivado ali.
Na câmara escura das nossas recordações.
Imagens que vamos recolhendo vida afora.
Elas têm nome e uma história para contar, cada uma delas.
E nostalgia.

Nada mais é do que a saudade da emoção vivida,
num determinado momento que passou veloz.
Emoções e emoções e ainda tanta emoção a ser vivida!
Muito além dos indivíduos, além das particularidades.
E todas essas químicas se processando no nosso corpo,
pois há quem diga que amor nada mais é do que uma sensação provocada,
para evitar a loucura da espécie e perpetuar o predador.
Uma ilusão passageira, uma descarga de substâncias certas no sistema.
Lubrificação.
Cuidados com a máquina.

Seja lá o que for, andei tomando resoluções práticas para a existência.
Porque nunca mais nesta vida quero ter saudade de beijo.
Nunca mais a nostalgia daquele mundo de línguas
dançando balé no céu das nossas bocas.
Nunca mais!

E juro que nunca mais nesta vida quero tentar entender o amor.
Quero deixar que ele passe por mim, como um pé de vento
que sopra folhas e poeira num arranjo aprumado.
Eu fico ali, no meio do redemoinho, só achando tudo muito bom.
Depois, o amor se vai e a gente continua a tocar a existência.
Assim é que deve ser.

Nunca mais nesta vida quero gente se indo. Já está de bom tamanho.
Coração da gente vai absorvendo os golpes:
que são muitos e de todos os lados, sempre.
Com quase todo mundo é assim.
De repente, as pessoas começam a ir embora, por morte matada e morrida,
por desamor, por tristeza, por ansiedade, por medos diversos,
seu coração vai recebendo as pancadas e uma hora dá vontade de dar um berro,
sair vomitando as mágoas todas que a gente foi engolindo.

Nunca mais gente partindo sem motivo aparente,
sem dar nome aos bois ou uma denúncia vazia.
Nesta vida, nunca mais!

E nunca mais, nesta breve passagem, a palavra não dita, o gesto parado no ar,
dissolvido antes do afago. Nunca mais a dose nossa de orgulho besta,
a solidão das noites perdidas por amor desenganado, o coração parado, à espreita.
Isso, não. Quanto mais o tempo passa, mais a urgência da felicidade ilusória
e da química do bem-estar, essas coisas todas que se operam em nossos íntimos.
Nunca mais.

Nunca mais um dia atirado ao nada,
nunca mais o verbo que não se completa,
todas as palavras que não foram ditas - verdades -, todas elas,
uma após a outra, formando frases, pensamentos, sentimentos,
amor costurando o texto,
que é linha que não refuga de jeito nenhum.

Nunca mais!
O coração se magoando todo o dia,
a gente engolindo sapos e lagartos e se esquecendo
de que é capaz de mudar cada uma das histórias,
reescrever o livro das nossas vidas.
Uma hora mais cedo e a cena teria sido outra ou o que teria acontecido
se você não tivesse ido àquele lugar, àquela noite,
o universo conspirava contra nós, ou a nosso favor?

Quem é que vai nos explicar?
Ninguém. Ou alguém.


Autoria de Miguel Falabela
Era uma vez, há muito tempo, um casal feliz, Antonio e Maria, com dois filhos chamados João e Lúcia. Para entender a felicidade deles, é preciso retroceder àquele tempo.

Cada pessoa, quando nascia, ganhava um saquinho de carinhos. Sempre que uma pessoa punha a mão no saquinho podia tirar um Carinho Quente. Os Carinhos Quentes faziam as pessoas sentirem-se quentes e aconchegantes, cheias de carinho. As pessoas que não recebiam Carinhos Quentes expunham-se ao perigo de pegar doença nas costas que as fazia murchar e morrer.

Era fácil receber Carinhos Quentes. Sempre que alguém os queria, bastava pedi-los. Colocando-se a mão na sacolinha surgia um Carinho do tamanho da mão de uma criança. Ao vir à luz o Carinho se expandia e se transformava num grande Carinho Quente que podia ser colocado no ombro, na cabeça, no colo da pessoa. Então, misturava-se com a pele e a pessoa se sentia toda bem.

As pessoas viviam pedindo Carinhos Quentes umas às outras e nunca havia problemas para consegui-los, pois eram dados de graça. Por isso todos eram felizes e cheios de carinhos, na maior parte do tempo.

Um dia uma bruxa má ficou brava porque as pessoas, sendo felizes, não compravam as poções e ungüentos que ela vendia. Por ser muito esperta, a bruxa inventou um plano muito malvado. Certa manhã ela chegou perto de Antonio enquanto Maria brincava com a filha e cochichou em seu ouvido: "olha Antonio, veja os carinhos que Maria está dando à Lúcia. Se ela continuar assim vai consumir todos os carinhos e não sobrará nenhum pra você".

Antonio ficou admirado e perguntou: "Quer dizer então que não é sempre que existe um Carinho Quente na sacola?"

E a bruxa respondeu: "Eles podem se acabar e você não os ganhará mais". Dizendo isso a bruxa foi embora, montada na vassoura, gargalhando muito.

Antonio ficou preocupado e começou a reparar cada vez que Maria dava um Carinho Quente para outra pessoa, pois temia perdê-los. Então começou a se queixar que Maria, de quem gostava muito, e Antonio também parou de dar carinhos aos outros, reservando-os somente para ela.

As crianças perceberam e passaram também a economizar carinhos, pois entenderam que era errado dá-los. Todos ficaram cada vez mais mesquinhos.

As pessoas do lugar começaram a sentir-se menos quente e acarinhados e algumas chegaram a morrer por falta de Carinhos Quentes. Cada vez mais gente ia à bruxa para adquirir ungüentos e poções. Mas a bruxa não queria realmente que as pessoas morressem porque se isso ocorresse, deixariam de comprar poções e ungüentos: inventou um novo plano. Todos ganhavam um saquinho que era muito parecido com o saquinho de Carinhos, porém era frio e continha Espinhos Frios. Os Espinhos Frios faziam as pessoas sentirem-se frias e espetadas, mas evitava que murchassem.

Daí para frente, sempre que alguém dizia "Eu quero um Carinho Quente", aqueles que tinham medo de perder um suprimento, respondiam: "Não posso lhe dar um Carinho Quente, mas, se você quiser, posso dar-lhe um Espinho Frio".

A situação ficou muito complicada porque, desde a vinda da bruxa havia cada vez menos Carinhos Quentes para se achar e estes se tornaram valiosíssimos. Isto fez com que as pessoas tentassem de tudo para consegui-los.

Antes da bruxa chegar as pessoas costumavam se reunir em grupos de três, quatro, cinco sem se preocuparem com quem estava dando carinho para quem. Depois que a bruxa apareceu, as pessoas começaram a se juntar aos pares, e a reservar todos seus Carinhos Quentes exclusivamente para o parceiro. Quando se esqueciam e davam um Carinho Quente para outra pessoa, logo se sentiam culpadas. As pessoas que não conseguiam encontrar parceiros generosos precisavam trabalhar muito para obter dinheiro para comprá-los.

Outras pessoas se tornavam simpáticas e recebiam muitos Carinhos Quentes sem ter de retribuí-los. Então, passavam a vendê-los aos que precisavam deles para sobreviver. Outras pessoas, ainda, pegavam os Espinhos Frios, que eram ilimitados e de graça, cobriam-nos com cobertura branquinha e estufada, fazendo-os passar por Carinhos Quentes. Eram na verdade carinhos falsos, de plástico, que causavam novas dificuldades. Por exemplo, duas pessoas se juntavam e trocavam entre si, livremente, os seu Carinhos Plásticos. Sentiam-se bem em alguns momentos mas, logo depois sentiam-se mal. Como pensavam que estavam trocando Carinhos Quentes, ficavam confusas.

A situação, portanto, ficou muito grave.

Não faz muito tempo uma mulher especial chegou ao lugar. Ela nunca tinha ouvido falar na bruxa e não se preocupava que os Carinhos Quentes acabassem. Ela os dava de graça, mesmo quando não eram pedidos. As pessoas do lugar desaprovavam sua atitude porque essa mulher dava às suas crianças a idéia de que não deviam se preocupar com que os Carinhos Quentes terminassem, e a chamavam de Pessoa Especial.

As crianças gostavam muito da Pessoa Especial porque se sentiam bem em sua presença e passaram a dar Carinhos Quentes, sempre que tinham vontade.

Os adultos ficavam muito preocupados e decidiram impor uma lei para proteger as crianças do desperdício de seus Carinhos Quentes. A lei dizia que era crime distribuir Carinhos Quentes sem uma licença. Muitas crianças, porém, apesar da lei, continuavam a trocar Carinhos Quentes sempre que tinham vontade ou que alguém os pedia. Como existiam muitas crianças parecia que elas prosseguiram seu caminho.

Ainda não sabemos dizer o que acontecerá. As forças da lei e da ordem dos adultos forçarão as crianças a parar com sua imprudência? Os adultos se juntarão à Pessoa Especial e às crianças entenderão que sempre haverá Carinhos Quentes, tantos quantos forem necessários? Lembrar-se-ão dos dias em que os Carinhos Quentes eram inesgotáveis porque eram distribuídos livremente?

Em qual dos lados você está?

O que você pensa disso?

Do livro: A Carícia Essencial - Roberto Shinyashiki - Editora Gente
Rir é correr o risco de parecer tolo.

Chorar é correr o risco de parecer sentimental.

Estender a mão é correr o risco de envolver-se.

Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar seu verdadeiro eu.

Defender seus sonhos e idéias diante da multidão é correr o risco de perder as pessoas.

Amar é correr o risco de não ser correspondido.

Viver é correr o risco de morrer.

Confiar é correr o risco de decepcionar-se.

Tentar é correr o risco de fracassar.

Mas os riscos devem ser corridos, porque o maior perigo é nada arriscar.

Há pessoas que não correm riscos, nada fazem, nada têm e nada são.

Elas podem até evitar sofrimentos e desilusões, mas nada conseguem, nada sentem, nada mudam e não crescem, não amam, não vivem.

Acorrentadas por suas atitudes, viram escravas e se privam da liberdade.

Somente a pessoa que corre riscos é livre!

Sêneca
O valioso tempo dos maduros


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam
poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir
assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!


Mário Pinto de Andrade
Escritor e político angolano, de nome completo Mário Coelho Pinto de Andrade.
(1928-1990)
Amai-vos...

Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um grilhão.

Que haja, antes, um mar ondulante
entre as praias de vossa alma.

Enchei a taça um do outro,
mas não bebais da mesma taça.

Dai do vosso pão um ao outro,
mas não comais do mesmo pedaço.

Cantai e dançai juntos,
e sede alegres,

mas deixai
cada um de vós estar sozinho.

Assim como as cordas da lira
são separadas e,
no entanto,
vibram na mesma harmonia.

Dai vosso coração,
mas não o confieis à guarda um do outro.

Pois somente a mão da Vida
pode conter vosso coração.

E vivei juntos,
mas não vos aconchegueis demasiadamente.

Pois as colunas do templo
erguem-se separadamente.

E o carvalho e o cipreste
não crescem à sombra um do outro.


Gibran Kahlil Gibran -
A Razão e a Paixão

E a sacerdotisa adiantou-se novamente e disse: "Fala-nos da razão e da paixão". E ele respondeu, dizendo: Vossa alma é freqüentemente um campo de batalha onde vossa razão e vosso juízo combatem vossa paixão e vosso apetite. Pudesse eu ser o pacificador de vossa alma, transformando a discórdia e a rivalidade entre vossos elementos em união e harmonia. Mas como poderei fazê-lo, a menos que vós mesmos sejais também pacificadores, mais ainda, enamorados de todos os vossos elementos?

Vossa razão e vossa paixão são o leme e as velas de vossa alma navegante. Se vossas velas ou vosso leme se quebram, só podereis derivar ou permanecer imóveis no meio do mar. Pois a razão, reinando sozinha, restringe todo impulso; e a paixão, deixada a si, é um fogo que arde até sua própria destruição.

Que vossa alma eleve, portanto, vossa razão à altura de vossa paixão, para que ela possa cantar, E que dirija vossa paixão a par com vossa razão, para que ela possa viver numa ressurreição cotidiana e, como a fênix, renascer das próprias cinzas.

Gostaria que tratásseis vosso juízo e vosso apetite como trataríeis dois hóspedes amados em vossa casa. Certamente não honraríeis um hóspede mais do que o outro; pois quem procura tratar melhor um dos dois, perde o amor e a confiança de ambos.

Entre as colinas, quando vos sentardes à sombra fresca dos álamos brancos, compartilhando a paz e a serenidade dos campos e dos prados distantes, então que vosso coração diga em silêncio: "Deus repousa na razão". E quando bramir a tempestade, e o vento poderoso sacudir a floresta, e o trovão e o relâmpago proclamarem a majestade do céu, então que vosso coração diga com temor e respeito: "Deus age na paixão". E já que sois um sopro na esfera de Deus e uma folha na floresta de Deus, vós também devereis descansar na razão e agir na paixão.

Gibran Khalil Gibran
Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.

Clarice Lispector