sexta-feira, 18 de março de 2011

ADÉLIA -" A vida é um vale de lágrimas. A arte, como a filosofia, é uma tentativa de superar os limites. O primeiro é o corpo. Você tem de carregar o corpo para onde você vai. Olha que peleja que é sair de Divinópolis e vim parar aqui em Montes Claros? Tem de entrar no ônibus, tem de parar pra comer. Os limites e as exigências da sua situação corporal, isso já é um limite. Mas essa matéria é habitada por um desejo infinito. Tudo é pouco para mim. Não tem arte que supra o meu desejo. Para o do meu coração, o mar é uma gota. Eu quero é tudo, o infinito é o que todo mundo quer. Quando você fala em amor, você quer o amor absoluto. Você casa muito apaixonado e para que o amor e a paixão perdurem, precisa de todo o seu empenho na morte do ego. O trabalho que dá de você preservar a sua projeção amorosa, a sua paixão. Porque não posso oferecer para o outro tudo o que ele quer, nem o outro para mim. Tem de haver uma busca de um absoluto que está fora de um e de outro. O amor é uma experiência do limite. Eu amo não é por causa, é apesar de. Quando alguém fala que gosta de mim, fico espantadíssima. As pessoas amam na gente aquilo que elas projetam no amor. De fato, a gente é isso, esse limite, essa miséria. E aí põe miséria, põe doença, põe dificuldades de toda ordem, os traumas herdados, psicológicos, tudo. Nós somos pura necessidade. A gente é a necessidade encarnada. Eu vejo a superação disso, isso é um caminho de santidade, não tem outra palavra para isso não. Essa superação do ego. Os psicanalistas estão aí para tentar fazer isso. Às vezes fazem equivocadamente. Falam: “Não, tudo bem, não existe culpa não, isso é bobagem”. Essa culpa de não amar, não aceitar a condição humana. Aceitar a condição humana é que é santidade. Você pode ver que a felicidade dos santos, se você ler a biografia deles, é porque eles descansaram na condição deles. Sou criatura mesmo, e criatura humana. Aceitar isso já é criar asas. É isso que eu peço a Deus todo dia."

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